Qualidade de vida no trabalho: também vale para o homem do campo?

Apesar dos muitos modismos culturais e sociais que adotamos, normalmente importados de países desenvolvidos, carecerem muitas vezes de fundamentação científica e ajustes à realidade brasileira, uma prática que está começando a ser levada a sério no Brasil é a preocupação com a qualidade de vida no trabalho.
A própria Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988, em seu Título VIII, Capítulo VI, que trata do Meio Ambiente, no seu artigo 225, diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
A primeira pergunta: “O que é e como se obtém uma sadia qualidade de vida?”
Em algumas empresas já encontramos práticas relativas à qualidade de vida no trabalho, como: academias de “fitness”, espaços sociais para momentos de relaxamento e descontração, ginástica laboral, programas de reeducação alimentar, entre outras, que contribuem, indiscutivelmente, para o bem estar dos funcionários.
A Revista Exame (fevereiro/2004), cita a Natura e o Grupo Pão de Açúcar, entre outras, que estão adotando uma postura altamente profissional nessa área, adotando um modelo de gestão que busca, por meio dessas e de outras ações e programas, objetivos bem definidos relativos à saúde, ao bem estar e à motivação dos funcionários, e tudo em perfeita sintonia com as metas organizacionais, condição que dá sustentabilidade à gestão do modelo.
O livro “Qualidade de Vida no Trabalho” (2003), da Profa. Dra. Ana Cristina Limongi-França da FEA/USP, apresenta quatro dimensões onde ocorrem as mencionadas práticas: Biológica (combate a doenças, vícios), Psicológica (atividades esportivas e ecológicas externas, e tratamento psicológico), Social (orientação sobre reciclagem de materiais, segurança, cidadania), e Organizacional (atividades culturais internas, valorização da ergonomia e benefícios como vale transporte, seguro-saúde).
No livro “Reestruturação do Agribusiness Brasileiro” (1999), organizado por Luiz Antonio Pinazza e Regis Alimandro, há uma proposta de um perfil de competências profissionais exigidas pelas empresas, onde, entre elas, é mencionado o “equilíbrio entre qualidade de vida e trabalho”. Aqui também vale uma pergunta: “O que é e como equilibrar qualidade de vida e trabalho?”
E a questão que lanço a todos que direta ou indiretamente atuam no campo é: “Entende-se um projeto de qualidade de vida no trabalho como um investimento ou um custo?Como custo ou investimento, o que tem sido feito nesse sentido?Em qual dimensão, das referidas acima, dever-se-ia investir mais?Por que?
As respostas a essas questões são o nosso grande desafio.
Nos meus 13 anos de atividade profissional voltada ao Desenvolvimento de Pessoas, predominantemente no segmento agrícola, tenho constatado um reclamo geral dos profissionais do campo com respeito ao nível de qualidade de vida no trabalho, caracterizado, entre outros motivos, pela carência de ações e programas de prevenção a doenças e acidentes e geração de bem estar, e pelo baixíssimo investimento em instrução, orientação e capacitação profissional na busca do aprimoramento da atividade profissional atual e na criação de possibilidades de desenvolvimento futuro, incluindo a gestão do próprio negócio, o sonho de muitos.E isto, sem dúvida alguma, também é qualidade de vida no trabalho.
Proponho, assim, investirmos cada vez mais na qualidade de vida do homem do campo, pois quanto maior seu bem estar e o seu desenvolvimento cultural e profissional, maiores serão as possibilidades de um futuro mais promissor, o que poderá contribuir, inclusive, com a redução do êxodo rural.
Não tenho dúvida de que há muito a se fazer, porém qualquer iniciativa deverá fundamentar-se no conceito claro de qualidade de vida no trabalho, o que se pretende com isso e o resultado esperado.
Além do mais, não podemos esquecer que com isso todos ganham.É só olharmos a importância da agricultura na economia brasileira, representada pelo percentual de contribuição ao PIB nacional.

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